quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Aumenta o preconceito, o racismo e a intolerância.


Neste mês da consciência negra de 2010 observamos fatos e acontecimentos reveladores e estarrecedores. Freqüentemente o preconceito toma as páginas dos jornais, numa verdadeira agressão em relação ao diferente, como se verificou no caso de homofobia que ocorreu na avenida paulista e na parada gay no rio de janeiro.

De Zumbi/Dandara até os dias atuais passaram-se 315 anos de história de lutas, resistências e caminhos novos. Da escravidão negra como fonte rentável na triangulação comercial, posteriormente o racismo cordial dissimulado, porém vivo e operante nas relações de dominação, até os marcantes e nefastos estereótipos raciais contidos nos livros didáticos, tem sido a história denegada do negro, da sua cultura banalizada e da religiosidade ainda invisível ao longo desses séculos.

Esse ano completa 100 anos da revolta da chibata que foi liderada pelo negro João Candido, o Almirante negro, cantada em versos e prosa inspirado nas lutas e movimentos internacionais e revolucionários. Inúmeros personagens figuram na nossa relação de lutadores sociais, que ao longo da história resistem ao extermínio dos índios, a escravidão negra e a tentativa de aliciamento dos operários.

Vários livros relatam cenas históricas horripilantes como o Capitão Mouro, DOM OBÁ II e dezenas de outros livros que contribuem para a tomada de consciência e ação diante desta realidade execrável. Durante esses quatrocentos anos, os negros resistiram a matança capitalista, enfrentando os senhores de engenho e a escravidão urbana, exigindo igualdade de oportunidades e disputam espaços institucionais como condição indispensável para alavancar e reparar os danos causados ao sistema de tragédia e morte que representou e representa a opressão do capital.

Após o processo eleitoral 2010 com a ampla votação de Dilma no nordeste o preconceito foi expresso em manifesto assinado por centenas de internauta: “A gravidade da situação é tamanha que estes cidadãos se sentem à vontade, sem qualquer pudor, para aprofundar seu preconceito e propor ações que beiram ao fascismo. É o caso do grotesco manifesto “São Paulo para os paulistas”, que já conta com milhares de assinaturas na internet. Para seus autores e signatários, então entre as responsabilidades da migração dos nordestinos para São Paulo a alta criminalidade e os hospitais superlotados em nosso estado. São incapazes de enxergar a brutal desigualdade social em nosso país, que força milhares de famílias a deixarem o pouco que tem em busca de alguma dignidade. Tampouco enxergam essa mesma desigualdade como a raiz da violência em todo o Brasil – e não apenas em São Paulo.

O manifesto propõe barbaridades como:

– Restringir o acesso a serviços públicos como saúde e educação a pessoas que comprovem residência e trabalho fixo no Estado de S Paulo há pelo menos dois anos.

– Acabar com a cobrança de taxas diferenciadas de água, luz e IPTU nas favelas.

– Suspender a distribuição de medicamentos gratuitos, de auxílio-aluguel, do programa mãe-paulistana, de quaisquer “bolsas por número de filhos”, de entrega de “casas populares”, de acesso ao “leve-leite”, de entrega de uniforme, material e transporte escolar, de cestas básicas.

– Proibir totalmente qualquer tipo de “comércio ilegal”, com apreensão e prisão em caso de reincidência.

E justificam: “São Paulo deve cuidar dos SEUS pobres”.

Atitudes como esta requerem uma resposta enérgica da sociedade, sob o risco de perpetuarmos um terreno fértil para o florescimento da xenofobia e aprofundamento do preconceito étnico-racial e regional em São Paulo, já tão arraigado entre a elite paulista.

A prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a prisão, previsto pela Lei 7.716 de 1989. A lei define como crime de racismo não apenas a prática, mas também a indução ou incitação à discriminação ou preconceito, e estabelece um agravante se esses crimes são cometidos por intermédio dos meios de comunicação.” (pronunciamento publicado no site do Deputado federal Ivan Valente).

Outra polêmica que tomou conta das manchetes dos jornais recentemente foram as citações de Monteiro Lobato no livro “Caçadas de Pedrinho”, que segundo o parecer do Conselho Nacional de Educação, a negra Tia Anastácia é comparada a urubu e macaco, o que levou esse órgão colegiado na redação da conselheira Nilma Lino Golmes a afirmar que : "Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano" e a não recomendá-lo como livro de leitura nas escolas publicas brasileira.

Entendo que censurar a obra não se faz necessário, porém distribuir e difundir livros didáticos que reforça os estereótipos raciais com dinheiro público, deve ser revisto mesmo, pois, nos encontramos num processo de luta de classe e além de combatermos o racismo, as releituras são exatamente para, a luz da realidade rever conceitos, criticar conteúdos e mandar para a lixeira da história autores e personagens que por vários motivos e caminhos são abjetos ao processo educacional atual.

Personagens como João Ramalho, Domingos Jorge Velho e outros bandeirantes, Filinto Muller e ditadores militares precisam ser condenados historicamente, pois foram dizimadores e traficantes de índios, capturadores de negros, algozes dos lutadores Revolucionários e assassinos dos povos que ousaram lutar contra a ditadura militar no Brasil . Por vezes nos deparamos com literaturas que desumanizam, criminalizam e ofendem a dignidade humana.

Este e outros momentos são propícios para debatermos todas as formas de ataques, resquícios autoritários, fragmentos ideológicos dominantes e os estereótipos raciais ainda existentes em nossa sociedade.

Nesse contexto, os 315 anos de Zumbi e os 100 anos de João Candido expressam mais do que nunca a necessidade de resgatarmos a história a partir dos índios, negros e operários, livre da pseuda “naturalidade” justificadora da dizimação dos nativos , da escravidão e da opressão do capital.

Faz parte desse processo de libertação de nossa classe as leituras e releituras atentas, com o olhar critico e ação contextualizada, pois as praticas raciais, discriminatória e intolerantes acontecem no aqui e agora.

“Muito se pergunta por quê? e para que o 20 de novembro?

Sabemos que na história da humanidade sempre houve controvérsias nas interpretações históricas, desde Tucídides e Heródoto até os dias atuais.

Mas segundo um grande pensador social, Karl Marx, a história da humanidade é a história das lutas de classe, onde a classe dominante tenta impor sua verdade sobre os fatos. No caso do 20 de novembro não podia ser diferente. Por muito tempo prevaleceu a história dos vencedores, contada na concepção factual e heróica das elites”. (Prof Cido, Membro da executiva da Subsede da APEOESP SBC e professor de História das escolas: Mizuho “Abundância” e Brazilia Tondi de Lima – SBC).

A caminhada é longa e são inúmeras as pontes que devemos destruir e construir para essa e futuras gerações, apontando necessidades coletivas e plataformas de lutas tais como:

• Criar nas prefeituras as Secretarias de gênero e etnia;

• Que o Presidente da República oficialize o feriado nacional de 20 de novembro;

• Pela imediata implantação da lei 10.639/2003;

• Pela implantação das cotas como políticas de reparação aos jovens pobres e negros nas universidades pública/autárquicas e privadas ;

• Por uma novo estatuto da igualdade racial;

• Por políticas de Saúde pública preventiva e curativa;

• Pela ampla divulgação das leis que condenam a prática de racismo, como crime inafiançável.





Repensar e reescrever uma nova História é preciso!!!



Aldo Santos, Ex-vereador SBC, Coordenador da Corrente política TLS, Presidente da Associação dos Professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo, membro da Executiva nacional do Psol. (20/11/2010)
Um embate teológico




A fisionomia eleitoral que o Brasil acabou de revelar das urnas eletrônicas permite várias leituras e releituras nos mais variados campos do conhecimento e da ação humana.

Não fiz campanha contra a Dilma e na hora do voto, a foto do vice Michel Temer na urna eletrônica, somado a outros aspectos da vida partidária e dos enfrentamentos possíveis que não foram viabilizado pelo atual governo, me levou a votar mais uma vez no 50.

Mas confesso que fiquei contente com o embate político/teológico que tomou conta da campanha eleitoral. De um lado a mobilização da igreja progressista tendo a frente Leonardo Boff, Frei Beto, Pe José Geraldo e um militante de base da igreja José Antônio Moreira (Chininha), operário da Mercedes Benz que expressa seguramente a pureza e o encantamento que esse setor da igreja católica historicamente vem construído, denominada de Teologia da Libertação, que continua resistindo ao poder central do vaticano e a aliança com o capital. Do outro lado, A TFP(Tradição, Família, Propriedade), OPUS DEI, Bispos reacionários e até o Papa tentaram criminalizar e diretamente influenciar nas decisões dos fies católicos e eleitores do Brasil , favoravelmente a campanha tucana.

Há algumas décadas atrás o Cardeal Joseph Ratzinger impôs e silenciou o grande teólogo brasileiro Leonardo Boff, por conta de suas reflexões questionadoras de um modelo de igreja e da defesa intransigente dos empobrecidos pelo capitalismo. Era o período de efervescência das comunidades eclesiais de base, que desempenhou importante papel no processo de capilarização e politização do nosso povo. O Referido Cardeal tornou-se Papa, afastando ainda mais a igreja da libertação material que os pobres tanto necessitam. Durante a campanha troquei correspondência com o padre José Geraldo, da Arquidiocese de São Paulo, que por escrito expressou solidariedade a injusta condenação e inclusão no rol dos fichas sujas a que fui submetido, dando seu testemunho da nossa conduta ética ao longo da história de luta e compromisso junto a classe trabalhadora. Chegou até a questionar o posicionamento do partido Psol, pela negação na prática da defesa dos movimentos criminalizados , e pela troca do vice nas condições apresentadas.

Nesse embate eleitoral onde o pano de fundo foi à defesa ou não da descriminalização do aborto, enquanto os candidatos faziam a me- culpa, esse setor da teologia da libertação sai na defesa da razoabilidade eleitoral, recolocando o caráter republicano do estado Laico, tomando partido ao lado dos avanços do governo Lula e da continuidade do mesmo através de sua candidata Dilma Russef.

Nesse confronto político/teológico a teologia da libertação saiu fortalecida e vitoriosa, enquanto os outros setores embalados pela “nova canção nova” foram derrotados, conforme expressou os dados numérico do resultado eleitoral.

Tenho inúmeros amigos que militam na Igreja e sinto que esse resultado foi animador para eles, pois os “derrotados e condenados” de ontem foram os vencedores dessa batalha e do processo eleitoral em curso.É claro que do ponto e vista das referencias ideológicas, a síntese dessa disputa se manifestou e materializou-se na pessoa do Camarada-Cristão Plínio de Arruda Sampaio. Plínio nunca negou sua militância religiosa, porém expressa em profundidade o inconteste compromisso com as causas dos pobres e tomando partido ao lado do Socialismo e da Revolução Proletária. É uma figura que preserva seus princípios pessoais, porém, se submete a defesa das resoluções partidárias como é no caso do próprio aborto e outros temas onde ele explicita seu pensamente, porém, como homem de partido o pensamento majoritário e coletivo se sobrepõe ao seu. Entendo que a “revanche dos de baixo” em sintonia com os setores que enfrentaram a instituição religiosa, tendo a frente o próprio Papa, seguramente dará um passo a frente na busca de uma nova sociedade igualitárias de homens e mulheres renovados pela utopia de justiça, da verdade, da igualdade revolucionaria Socialista.

Nesse contexto, a vitória desse setor é algo muito importante e significativo, em que pese às diferenças de projetos estratégicos que professamos. Não Somos defensores da teoria do quanto pior melhor, tão pouco, não somos animadores de um continuísmo muito aquém das reais necessidades da classe trabalhadora. A libertação política de nosso povo a rigor não nega a teologia da libertação, porém, a teologia da libertação não pode corroborar permanentemente com o continuísmo neoliberal “mais do mesmo”. Essa aliança é fundamental na America latina e no mundo inteiro, pois revolucionar é preciso.

Aldo Santos. Sindicalista, Ex-vereador SBC, Coordenador da corrente política TLS, Presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado De São Paulo, membro da Executiva Nacional do Psol. (13/11/2010)
Revendo os métodos de Educação!




Por Aldo Santos

Como em todas as aulas, no dia 08 de maio de 2001, a Prof. Maria Alice fez uma retrospectiva das aulas (curso de mestrado em História e Cultura) até o momento, discorrendo sobre a questão do método utilizado e sua ação como facilitadora do processo pedagógico em sala de aula. Os textos utilizados foram dentre outros: a imaginação, a partir de Rubem Alves, recuperando as (imagens) numa perspectiva libertadora.

O método, ou seja, a busca de caminhos no cotidiano, como pressuposto do falar vivido-vivendo. Debatemos a influência da sociologia no conteúdo pedagógico a partir do formismo, relativismo, pensamento libertário e estilo (Michel Maffesoli). Cada educador ou educando tem o seu estilo da relação pedagógica como expressa na tese saber-fazer.

Do ponto de vista didático a professora se expressa como buscadora de caminhos a partir de Rogers, Piaget e Paulo freire, onde nada é definitivo. No recinto (sala de aula) polemizou-se sobre a condição do educador; se ele é objeto ou sujeito do saber.

Ser sujeito pressupõe, ser livre com autonomia, porém exposto a mediação entre o ideal e o real (na sala onde lecionamos).

Percebe-se ainda que somos em grande parte “objeto” dos aparelhos ideológicos do estado, (conforme atestam as correntes de pensamentos dos filósofos/Sociólogos, da qual são representantes Bourdieu e Passeron), e de instituições privadas onde o que prevalece são os interesses de manutenção do estado capitalista excludente.

Falamos ainda sobre as correntes pedagógicas expressas no texto de Libâneo, bem como, nossa reprodução de uma educação bancária, conforme leitura de Paulo Freire, na abordagem do livro de José Rubens l. Jardilino (retalhos biobibliográficos – edições pulsar – novembro/2000 – pág. 33 e 34), o autor relaciona o processo educacional como:

“Nessa concepção, Paulo está criticando não somente o ato de ensinar, mas uma visão de mundo da sociedade opressora e, conseqüentente, o conceito de cultura aí embutido – a cultura do silêncio – [receber e transmitir valores e conhecimentos].

O autor caracteriza a concepção bancária de educação em dez pontos que transcrevemos abaixo:

1 – o educador é o que educa; os educandos, os que são educados;

2 – o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem;

3 – o educador é o que pensa; os educandos, os pensados;

4 – o educador é o que diz palavra; os educandos, os que a escutam docilmente;

5 – o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados;

6 – o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição;

7 – o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador;

8 – o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta escolha, se acomodam a ele;

9 – o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente á liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se ás determinações daquele;

10 – o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos.

Dessa forma, Paulo mostra que, na visão de educação bancária, existe uma oposição entre educador-educando, no qual ambos não se dão conta como no processo de oprimidos/opressor, é necessário, pelo ato pedagógico, desmistificar essa relação para que aconteça a verdadeira educação que dirige o homem para liberdade.

A tomada de consciência de uma das partes os leva á superação da preservação do poder das classes dominantes sobre as dominadas.

A educação bancária está a serviço da desumanização e da opressão dos seres humanos. Cabe, pois, uma ação de descoberta da consciência para que, nos libertando da condição dos ouvintes, passamos dizer a palavra criadora e feitora do mundo.

Paulo chama a atenção mesmo daqueles educadores humanistas que, embora cheios de boas intenções e buscando a educação libertadora, estão submersos numa concepção bancária de educação e, portanto, a serviço da causa do opressor”.

Conclui-se que devemos ter claro os desafios e limites das instituições escolares, porém,se faz necessário transformar a escola num espaço de conscientização, politização e de libertação dos empobrecidos , desmascarando a pseudo neutralidade pedagógica que se presta a manutenção da ordem e do sistema Capitalista vigente.

Mudar é preciso.

Aldo Santos é ex-vereador de São Bernardo do Campo, membro do Diretório Nacional e Presidente do PSOL em São Bernardo do Campo