sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Apenas o candidato Aldo Santos do Psol compareceu ao debate com os moradores em situação de rua.




Numa salutar divisão de agenda, compareci ao Debate promovido pelo Movimento Nacional da População de Rua, na manhã do dia 09/09/2010, Rua Riachuelo 268, centro da capital.

Fui recebido simpaticamente pelo Padre Júlio Lancelotti, que me apresentou as lideranças do movimento para me situar do formato do Debate e do histórico do mesmo. Essa tarefa ficou a cargo do companheiro Ruben, um dos coordenadores do movimento em São Paulo, que historicisou, falou das demandas do movimento, como emprego, moradia, prédios ociosos, além de citar o embasamento legal de suas ações.

Em seguida Chegou o Senador Suplicy, que distribuiu seus livretos sobre a renda mínima, fez uma saudação e respondeu perguntas dos presentes sobre o mérito do governo do PT.

Fui chamado para compor a mesa e para a minha surpresa, o Padre Júlio informou aos presentes que o único candidato presente era o representante do Psol Aldo Santos e os demais representantes não tomariam assento à mesa, pois o debate fora marcado com os candidatos. Estavam presentes os representantes de Mercadante, e Geraldo Alckimin. Nesse momento teve inicio um pequeno tumulto, vez que o representante do Governador Alckimin, se sentiu preterido e agressivamente questionou com o dedo em riste o padre Lancelotti, que reafirmou mais uma vez que o debate estava agendado com os candidatos e não com representantes dos candidatos. Nesse critério tomei assento à mesa e a coordenação dos trabalhos liderada pelo companheiro Anderson apresentou num telão os pontos programáticos do movimento, que após aplauso dos presentes, passou a palavra para inúmeros participantes presentes no plenário.

As falas apontavam e questionavam a ausência das políticas públicas, fundamentalmente na área da educação, saúde, habitação, além da perseguição aos trabalhadores a economia informal, a falta de emprego, a reparação dos direitos da população em situação de rua, da falta de atendimento a essa população e fizeram referência ainda aos catadores e as cooperativas e a situação dos egressos das prisões que são jogados no olho da rua sem proteção do Estado.

Após as falas, o coordenador dos trabalhos passou a palavra para mim, que por vários minutos falei sobre a importância do evento.

Para caracterizar o nosso compromisso e identidade com o movimento comecei narrando o episódio que ocorreu em 18 de junho de 2003, na câmara municipal de são Bernardo do campo, quando da defesa aos moradores de rua da cidade, onde proferi discurso que denunciava a ausência de uma política habitacional inclusiva aos moradores em situação de rua.

No dia 18 de julho do mesmo ano, explodiu a ocupação do acampamento Santo Dias, no terreno da Volkswagen, onde chegou a abrigar cerca de 7 mil acampados, que foram duramente reprimidos e a posse do terreno foi reintegrada. A direita reacionária ligou o meu discurso na câmara municipal com a mega ocupação de terra na cidade e tanto o governo federal, estadual e municipal lavaram as mãos em relação ao movimento tratando com truculência e tropa de choque em pleno governo do PSDB - Geraldo Alckimin.

Nessa ocupação por ter socorrido mulheres, crianças e idosos, para serem medicados na capital, fui condenado a cinco anos de perda dos direitos políticos e a pagar uma multa em torno de R$ 100.000,00 mil reais.

No decorrer do atual processo eleitoral, fui enquadrado como ficha suja, em decorrência do episódio acima relatado, o que na prática representa uma aberração e criminalização dos movimentos organizados e dos lutadores sociais. Falei dos dados apresentados em matéria publicada abaixo: “ Em São Paulo, o Censo da População de Rua referente ao ano de 2009 indicou existem 13.666 pessoas em situação de rua. Destas, quase metade não consegue atendimento na única política pública da prefeitura municipal para a questão. Apenas pouco mais de 7 mil moradores de rua são atendidos em hotéis, repúblicas sociais, instituições conveniadas e albergues.

Conforme dados da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe), pelo menos 1842 crianças e adolescentes vivem nas ruas da cidade. Em média, já estão nas ruas há três anos, a maioria entre 12 a 17 anos. Quinze por cento das crianças têm menos de seis anos.

Para a socióloga Maria Antonieta da Costa Vieira, apesar da situação caótica, a indiferença reina na cidade.

"Não é problema das ruas, é um problema da sociedade. Só que para determinados segmentos sociais – de baixa renda, com uma situação de desestruturação familiar – a rua passa a ser uma saída. A visão da sociedade é extremamente preconceituosa. As soluções apontadas são soluções higienistas, de ‘limpa, tira, coloca em uma instituição’.”

Maria Antonieta da Costa Vieira e a economista Silvia Maria Schor são pesquisadoras da Fipe e participaram da coordenação do Censo de moradores de Rua. No processo de pesquisa, observaram que não basta ter trabalho para manter o ser humano longe da penosa vida das ruas. Para Silvia Maria, a falta de proteção da família e o uso de drogas podem influenciar na mesma medida.

“Você não sabe se a pessoa perdeu o emprego porque começou a beber ou começou a beber porque perdeu o emprego. Ou se a pessoa começou a se dar mal no trabalho porque a situação na família já estava difícil. Muito provável é um processo interativo e as mudanças vão acontecendo juntas.”

De acordo com o Censo, a idade média dos que estão na rua é de 40 anos. Cerca de 65% é parda e negra e 93% sabe ler e escrever. Setenta por cento são oriundos do estado de São Paulo, de outros estados do Brasil, e até mesmo do exterior. O restante são moradores da própria cidade.

Morar na rua tem um custo mínimo para a manutenção da vida: comida, remédios, cigarros. Segundo as pesquisadoras, poucos são os que vivem somente de esmolas. Ainda de acordo com Silvia Maria Schor, quase 70%, trabalha catando latinha, desabastecimento de caixas no Ceasa, fazendo bico de segurança. Em média, ganham R$ 19 por dia, renda insuficiente para sair das ruas.

“A degradação física vai progredindo e cada vez menos os moradores de rua têm chances de ocupação ou mais regular ou menos informal. Um jovem que fica na rua por muito tempo, para se reintegrar na sociedade novamente, fica muito difícil. As pessoas perdem a noção de tempo cronológico. Não sabem o dia da semana ou quanto tempo estão na rua. O futuro pra eles é o que estão vivendo naquele momento” ( publicado jornal Brasil de fato em 24/06/2010 Aline Scarso ,Radio agência NP).

Do ponto de vista habitacional, o déficit Estadual é de 1,4 milhões de moradias e conta ainda contraditoriamente com cerca de 700 mil casas desocupadas.

Assumi o compromisso com o documento apresentado em nome do Psol e registrei o compromisso de Plinio de Arruda Sampaio e Paulo Búfalo com os moradores em situação de rua ali presentes. Duas coisas me chamaram atenção: A força do movimento organizado, que de modo disciplinado e atencioso falaram e ouviram, bem como a intervenção incisiva do Padre Julio Lancelotti, que respeitou e exigiu respeito para com o povo pobre em situação de rua, impondo aos candidatos ausentes uma necessária reflexão de conteúdo ético e de profunda dimensão humana e política.



Respeitar os pobres é preciso!!!



Aldo Santos: Ex-vereador em SBC, Coordenador da corrente política TLS, Presidente da Associação dos Professores de filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, Membro da Executiva Nacional do Psol e candidato a vice Governador por SP. (09/09/2010)

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