sábado, 13 de agosto de 2011

HIPÁTIA DE ALEXANDRIA E O COMPROMISSO COM A FILOSOFIA.
Normalmente procuro atualizar minhas informações lendo bons livros e bons jornais, conversando diretamente ou virtualmente com as pessoas, além de participar de várias reuniões, ouvir uma bela música popular brasileira, como as de Chico Buarque, a exemplo do novo CD “Chico” que ganhei pela ocasião do meu aniversário, e nesse domingo, assisti ao filme que minha irmã Alda tinha recomendado há algum tempo.
Esse belo filme é Alexandria, que embora já tivesse conhecimento pela crítica, é uma verdadeira aula de Astronomia, história, religião, filosofia e política, conforme sinopse publicada no site-Imagem/filmes, onde situa o contexto e o conteúdo da película da seguinte maneira: Sob o domínio Romano, a cidade de Alenxadria é palco de uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história antiga. Judeus e cristãos disputam a soberania política, econômica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a bela e brilhante astrônoma Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria. Dois deles disputam o seu amor: o prefeito Orestes (Oscar Isaac) e o jovem escravo Davus (Max Minghella). Entretanto, Hypatia terá que arriscar a sua vida em uma batalha histórica que mudará o destino da humanidade.”
Confesso que fiquei bastante convencido e engrandecido com minha disciplina de filosofia, tendo no seu bojo pensadores e pensadoras da dimensão e grandeza da filósofa Hipátia. Essa professora é a figura central do filme Alexandria, colocando a filosofia no seu proeminente lugar, fundamentalmente numa época de “superação da filosofia grega” pelo pensamento cristão que vai, historicamente, se configurar como o período medieval entre os séculos V ao século XV da era Cristã.
O contexto do filme se dá num período de desenvolvimento e apologia da fé cristã,  que vai vencer essa batalha, do ponto de vista cultural, religioso e econômico naquele período e nos séculos subsequentes, denominado de  período medieval.
Hipátia era responsável pela biblioteca de Alexandria no Egito, onde lecionava astronomia, matemática, física e filosofia. Estabeleceu as bases científicas que expressavam a rica cosmologia já existente naquele período. Ela viveu entre os anos de 355 a 415 depois de Cristo e, não se omitiu em a dar sua contribuição como filósofa e educadora, sendo, portanto, uma figura marcante na história da filosofia.
Esse foi um período de grandes embates entre as culturas grego-romana e cristã, além do embate científico-filosófico, condenado pela ortodoxia da Igreja Católica Apostólica Romana, que posteriormente conformou o temível e condenável Tribunal da Inquisição que fora instituído para enquadrar, silenciar e matar quem ousasse contestar os dogmas da Igreja. 
A teoria de Hipátia em tese, questionava a teoria Geocêntrica, de Cláudio Ptolomeu, o grego, aceita à época pela ciência e pela Igreja.  Seu pensamento e seus experimentos estabeleceram as bases da teoria formulada por Nicolau Copérnico, séculos depois, que seria a teoria heliocêntrica.
O heliocentrismo rompe e supera a idéia de que a Terra era o centro e o limite, conforme afirmava a teoria geocêntrica, revolucionando assim, os horizontes do conhecimento, fazendo os homens erguer a cabeça para observar o ilimitado universo e a profunda dimensão da natureza humana, mesmo que para isso, fosse necessário enfrentar a ira dos tribunais da fé católica.
Cronologicamente, estamos em pleno fim do escravismo Romano e início do Feudalismo, em que o controle absoluto da Igreja sobre o céu e a terra é uma realidade insofismável, transformando a filosofia grega em pagã, além de cristianizar alguns dos filósofos clássicos da filosofia antiga, como Platão e Aristóteles. O surgimento do cristianismo foi uma febre coletiva e pouca opção existia diante do Patriarca Cirilo, que combatia àqueles que ousassem questionar, ou não professar a fé cristã. 
Numa manobra clássica de forte caráter machista e de questionamento dos não crentes na fé cristã, através de cartas enviadas aos cristãos da época, tentam convencer Hipátia da necessidade do seu alinhamento ao pensamento majoritário daquele período. A resposta de Hipátia quando questionada sobre sua possível adesão ao Cristianismo não deixa dúvida sobre a radicalidade da filosofia em todos os tempos: "Você não pode questionar sua fé; eu devo!"
Devido ao seu posicionamento cristalino e sua opção de amor ao conhecimento (etimologia da palavra Filosofia), ela foi apedrejada, acusada de bruxaria e ateísmo.
A sua morte para os adeptos do cristianismo, assim como para outras denominações, significava o silêncio sobre o verdadeiro conhecimento e a segregação social, econômica e política de um povo, outrora, submetido ao escravismo, ao feudalismo e, nos dias atuais ao capitalismo. Nesse sentido, mesmo diante do enfrentamento e resistência, a classe dominante nada mais fez do que substituir os deuses gregos, romanos e cristãos pelo fetiche ao capital e do consumismo, evidenciado assim, a opressão de classe em todos os sentidos .
Nesse contexto, entra a ação da filósofa, que numa relação pedagógica e proximal com os alunos, que expressam  para com ela os mais variados sentimentos de natureza pessoal e até na fé cristã, ela contudo, opta pelo estudo, pelo conhecimento, fundamentalmente por categorias científicas que, séculos mais tarde, o cientista Johannes Kepler  retoma os estudos iniciados pela nossa precursora do heliocentrismo?
Além de assistir, debater e questionar o papel das religiões ao longo da história da humanidade, é preciso estudar as teorias por ela mencionadas, seus autores preferidos, sua opção pela filosofia e pela rica cosmologia,  objeto de suas investigações naquela época e nos dias atuais, bem como ,descobrirmos e evidenciarmos inúmeras filósofas comprometidas com  o processo da evolução científica e a conseqüente libertação da nossa classe e da humanidade.
Buscar o conhecimento e a verdade é preciso!!!
Aldo Santos. Ex-vereador SBC, Presidente da aproffesp, Coordenador da subsede da APEOESP SBC, Membro do Coletivo Nacional de Filosofia e da Executiva Nacional do Psol. (08/08/2011)



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