sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Não chore por mim...

Assistimos no dia primeiro desse ano a emocionada posse da presidente da república Dilma Rousseff. A posse da primeira mulher na presidência da República do Brasil nos faz lembrar que o século XXI, nesses seus primeiros anos, fez várias inaugurações: primeiro presidente negro dos Estados Unidos; primeiro operário na presidência do Brasil; primeiro bispo (com vários filhos) na presidência do Paraguai...

Evidentemente, em geral, as pessoas ficam sensibilizadas diante de tais eventos, principalmente aquelas que estão diretamente envolvidas, daí vermos mulheres, crianças e homens chorando. Uns devido a entrada, outros por conta da saída. No caso do ex-presidente, que não é nenhuma novidade seu choro, agora chora a partida, mas sem adeus.

Lula deixa o planalto chorando, com ele choram os ricos e os pobres. Os primeiros, porque “nunca antes na história desse país” banqueiros, latifundiários, industriais, grades comerciantes, construtores, ganharam tanto dinheiro; os segundos, num misto de empatia e reverencia ao bem feitor (paternalismo), agradecem a ajuda recebida. Não podemos esquecer que também durante esses oito anos os parasitas do Estado continuaram drenando recursos públicos para seus bolsos – não faltaram escândalos de corrupção.

O governo do ex-operário, entre o seu legado, deixa uma emenda constitucional que amplia o tempo de trabalho e contribuição dos trabalhadores para a aposentadoria. Se não bastasse tal contradição, sai e deixa assinado o decreto de reajuste do salário mínimo no valor de R$540,00, enquanto os setores da direta tradicional do país, já na campanha eleitoral, propunham R$600,00, valores muito abaixo do necessário.

Dilma assume repetindo várias vezes que tem como objetivos o controle fiscal e o corte nos gastos. De maneira geral, podemos adiantar que aqueles que ganharam muito dinheiro no governo anterior vão continuar ganhando e aqueles que recebiam um pouco de ajuda não tem o mesmo garantido. Tais objetivos se prestam a assegurar o pagamento das dívidas externas e internas e, se para tanto, tem que investir (gastar, na palavra deles), menos na educação, saúde, segurança, saneamento básico ou moradia tudo bem. Os ditos avanços não passam de uma miragem já que a burguesia controla a mídia e as políticas públicas básicas continuam precárias.

Lula sai e deixa para Dilma um conjunto de reformas que, apesar da sua alta popularidade, não teve força para fazer. Como temos visto em outros países, tais reformas protegem o capital em detrimento do trabalho, ou seja, os trabalhadores novamente vão pagar com seu suor e sangue a manutenção do sistema.

O ex-presidente sai deixando os preços dos produtos alimentícios na estratosfera – o preço da carne está um pouco mais acima – e para não aumentar o consumo arrocha o salário. Em contra partida, os trabalhadores, fragilizados pela cooptação, ficam com os aumentos das tarifas dos serviços públicos e dos impostos e endividados. As chuvas põe a nu a crueldade desses governos.

Diante desse cenário de vitória do capital via modernização conservadora que passamos e o que está por vir, onde os latifundiários, empresários, banqueiros e corruptos continuarão aumentando seus fabulosos lucros, o loteamento de cargos, o descaso com competência técnica dos ministros, aproximação com os EUA indica que qualquer abalo externo retira as migalhas oferecidas nesse último período a uma parcela da população. Sendo assim, somos forçados a afirmar que não é necessário que chores por mim...

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